O cara mau e a mulher no porta-malas…

 

Revista coreana faz capa polêmica que romantiza a violência contra a mulher

Junsu-1

Por Cah Rangel

A capa da edição setembro da revista Maxim, publicação coreana voltada para o público masculino, causou polêmica e fez com que uma legião de mulheres na Coréia e em outros países se manifestassem contra a publicação nas últimas semanas.

A revista, que é notoriamente conhecida por produzir ensaios sensuais de mulheres e objetificá-las em relação aos homens, estampou em sua capa a matéria “The real bad guy” que traduz-se como “O verdadeiro cara mau”. A foto que ilustra a manchete e que causou a ira de milhares de cidadãs coreanas trazia um homem fumando um cigarro e recostado a um carro. Até aí nada demais, porém no porta-malas do carro, que está entreaberto, é possível ver as pernas de uma mulher que parece estar nua e com os tornozelos amarrados com fita adesiva, além de frases que podiam ser traduzidas como “Então, as garotas gostam dos caras maus? É assim que um cara mau se parece. Morrendo por ele, certo?”.

Certo? É certo que uma revista voltada para o público masculino e que já retrata mulheres como objetos para o prazer dos homens, também glamourizar e tornar a violência contra mulher um fetiche sexual? Será mesmo que as mulheres gostam disso? Vocês meninas querem um cara mau que te trate como objeto e te jogue no porta-malas de um carro?

A revista Maxim parece achar que sim e por isso tiveram a brilhante ideia de fazer essa capa.

Respondendo à pergunta quanto às mulheres gostarem ou não disso, a resposta claramente é não. E isso ficou comprovado pela enxurrada de mensagens de protesto que a revista recebeu em suas redes sociais de mulheres indignadas com a mensagem implícita na foto e na matéria publicada pela revista.

Milhares de pessoas assinaram uma petição repudiando a publicação e pedindo que a edição fosse retirada dos postos de venda imediatamente. A petição argumenta que a revista é voltada para o público masculino e realiza um desserviço ao tornar a objetificação da mulher algo natural.

“A Coréia tem uma crescente taxa de crimes violentos e crimes sexuais. Ainda assim, Maxim Coréia está negando a dor das vítimas da criminalidade, suas famílias e as mulheres que têm medo todos os dias considerando mais os ganhos comerciais e a liberdade de expressão. Exigimos que a Maxim Coréia pare de vender sua edição de setembro e recolha as que já tenham sido vendidas. Nós também pleiteamos ao Ministério da Igualdade de Gênero e Família e à Comissão de Ética de publicações da Coréia a fazer um anúncio público sobre a questão e tomar medidas para impedir que outros casos semelhantes ocorram”.

Num primeiro momento o departamento editorial da revista defendeu a matéria publicada dizendo se tratar apenas da representação de um crime de assassinato e abandono de corpo como em um filme noir. Disseram ainda que não havia qualquer insinuação de ofensa sexual ou promoção de fantasias envolvendo crimes sexuais. Jura?

O que os editores parecem não ter percebido é que essas publicações têm alta influência no comportamento de seus leitores e usar um ator como Kim Byung-Ok que é extremamente conhecido na Coréia por seus papéis em doramas, nos quais atua quase sempre como um vilão mau caráter e sem escrúpulos, reforça a mensagem de que tal comportamento em relação às mulheres é aceitável e como se isso já não fosse suficiente, ainda usaram aquelas frases infelizes mencionadas acima.

Alguns dias depois, após toda a controvérsia causada pela capa que recebeu reações negativas de várias partes do mundo e foi veiculada até mesmo no site da versão inglesa da famosa revista Cosmopolitan, os responsáveis pela revista publicaram um pedido de desculpas oficial em seu site onde admitiam o erro de publicar tais fotos e que não tinham a intenção de romantizar a violência contra a mulher.

Até quando será que a mídia e as pessoas se esconderão atrás “liberdade de expressão” para se sentirem no direito de espalharem ideias deturpadas e violentas que visam diminuir a importância e os direitos das mulheres e outras tantas minorias?

Vale a reflexão.

Fontes [1] [2]

Um comentário sobre “O cara mau e a mulher no porta-malas…

  1. O pior é o “exemplo” que estão dando. Atualmente as coisas estão tão estranhas que esse tipo de fotos e matérias são preocupantes. Eu leio coisas desse tipo e acabo pensando “E ainda esperam que eu coloque uma criatura nesse mundo”.

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